domingo, 5 de setembro de 2010

Momento V

Consta no tempo que não vens, enquanto petrificada
tranformo sua ausência em prata.
O meu corpo te lamenta, são as suas palavras
que pouco me importa. Importa-me ser reconquistada
a cada verso com a sua dialética lírica.

Posso transforma-me em prazeres se quiseres
e plantar no seu peito mil versos,
se assim quiseres.

Enquanto me praparo e não vens, dispo-me lentamente
das suas palavras, fico sozinha a supor se o amanhã virá.
Procuro pelo sumo da sua voz
enquanto percorro a casa minha, mas não o ouço.

Eu te amo, mas tu se afastas de mim
e eu me afasto de ti.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Meus Adornos

Empoçada de sonhos trilho o meu caminho
misto de desejos sempre mistos,
eles permanecem mudos entre-muros
e juntos em um esguio corpo escuro.

Acima dos sonhos está a imperfeição
das vontades, as palavras não arquitetadas,
o ar ocupando o lugar da respiração
de um corpo cheio dor, uivando para o nada.

Envolta na bruma, cheia de girassóis
liberto minha consciência onírica.
Ela brinca de fadas, duentes e gnomos
de uma insuportável maneira lírica.

-O que procuras menina? Disse-me o pavão.
-Girassol!
-Para que se não possui nem um sol?


...E então, perco-me de mim pelo absurdo.
É um ambiguo deleite para a alma.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Canto Agudo

Não há culpados, como não há nós
os nossos nós foram dasatados.
Sem dúvidas, seguirei sem fazer alarde
dando adeus ao mais-que-perfeito
e com a certeza que já fui tarde.
Lembrarei docemente dos sortilégios
mas eles não trarão arrependimento,
nem saudade.

Tenho o privilégio de reconhecer
que não foi falso,
nem pequeno,
foi um viver.

Momento IV

Deverias ter me detido,
apenas por um instante.
O que resta será pontilhado
de poesia e não mais será feito
o gozo teu.
Petrificada, restauro o pudor.

A sua carne, não causa mais medo
desvendamos todos os segredos
enquanto bebias o meu leite,
afagamos a ira vasta e inflexível
com a solidão,
nesse descaminho doloroso e fastio,
onde mostra-se cada vez mais hostil.

Sonharei com laços de pedras, elfos,
e suas patas quebradas...
Tudo isso, enquanto pinto de preto
o seu quadro perdido.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Momento III

É bom que se perca, que não venhas,
não quero ouvir o som dos ventos
nem carregar suposições no peito.
Nunca mais sorverei o sumo da sua fonte,
derreti os pilares da nossa ponte.
O sentimento se desfez com sua ausência,
seu corpo não se moverá mais junto ao meu.
Por mais que eu esteja suplicante,
findou o som dos nossos passos e
abrimos o peito para a disritimia.

Disse a minha estrela, que sou protetora
de todas as minhas ardências
e transformarei tudo em cintilância,
até os prazeres, o seu cheiro laborioso
controlando a minha ânsia,
comendo todos os seus últimos rastros.

Apenas resíduos,
estes,
findarão à luz do amanhecer.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Distração da Fantasia

Se todo coração uma ponte esconde
Tive a certeza de que virias comigo
Pois sua costela sou eu
Diante do infinito contorno
das nossas vidas

S/D

Bandeira

Satisfeita por papéis não ter findado
Deparo-me com o vácuo no peito
Procuro fechá-lo com álcool iodado
Mesmo tendo fenecido o que nunca foi refeito

O sujeito falta alguma faz, o buraco
é recheado de sonhos e inocência perdida.

É a minha humana ladradura.

S/D

Casar

Casar pela alma, pelo bem, pelo amor
pela companhia, e até pela aliança
pela união dos corpos sempre em fervor
com os desejos, os sonhos e as esperanças.

Em mim, somente o desejo de desejar
a vocês o cheiro da delicadeza da vida,
que as desavenças sejam leves como plumas
mas a que simplicidade nunca seja perdida.

E que também possuam os desejos mais devassos,
que cantem, dancem e sintam a mesma música
respeitando seus próprios rítimos,
sem nunca deixar de estar no mesmo compasso.

Mas...Antes de tudo,
que esteja sempre aceso o desejo de partilhar
que nunca hesitem em compartilhar as vontades,
as idealizações, os sonhos e as verdades,
deixando cada vez mais estreito o laço
fazendo de uma só pegada, dois passos.

E que cada primavera seja única
para que sempre se surpreendam
com a beleza da flor,
mas que tenham sensibilidade
suficiente para chegar até a semente
pois é lá que se origina o amor.

Que sejam acompanhados pela ânisa
incasável e infinda do amor demais
que consigam permecer juntos em pensamento,
ou se distanciem na paz,
mas que acima de tudo, sejam dois
como um só faz.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Teoria

É o gosto amargo do mel,
tão doce que provoca nauseas intensas.
A náusea de estar condicionado
a sentir o que o músculo sente,
com os poentes lambusados de lama
pelos dias findos ao acaso que sempre mente.
Ilusões vendidas a longo prazo
em troca do presente perdido.
As verdades partidas dentro do útero
ao invés de serem paridas.
A culpa como reflexo da covardia
do futuro incerto, só de teoria.
"-Olha menina, não seja tão egoísta,
Deus vai te castigar!
Coloque teus sonhos em oferta
que por eles algum magnata vai pagar."
Esquecemos quem somos para tornarmo-nos
lixos estagnados nas calçadas.
Que a ventania leve-nos em direção
ao nada, ao tiro pela culatra.
Que a liberdade não seja nosso moralismo
e sim nosso lirismo. Gozemos o lirismo.
São grande porcos fétidos e inúteis
que nos induzem a dar as costas ao nossos
verdadeiros anseios por sermos fúteis, pequenos.
E hoje de todas as certezas me desfaço.

-Oh Vida, me pari novamente que eu quero ser grande.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Meu Saco Escroto

Estou de saco cheio do cheiro das pessoas,
aquele odor podre que sai de dentro
somente por elas serem humanas, à toa.

Estou de saco cheio de viver em sociedade
isso está me dando náuseas e mofando
toda ilusão que tive em certa idade.

Eu estou de saco cheio de sorrir
e vestir a cara falsa da maioria dos mortais,
esperando ganhar por servir.

Estou de saco cheio da rima do verso
que peno para achar palavras
que expressem o que eu contesto.

Estou de saco cheio de tudo tão mal,
daquela única lágrima que não desce
por crer que chorar me torna banal.

Estou de saco cheio da palavra muda
que degenera todo esforço que faço para ouvir,
me deixando cada vez mais surda.

Estou de saco cheio desses porcos infernais
que com a sua futilidade,
atiram pedras nos meus sonhos coloniais.

Estou de saco cheio de olhar para o poente,
brincar de cabra cega, não conseguir
tirar a venda e ficar ali, rente.

Estou de saco cheio do ruído constante
que desorienta e empurra abismo abaixo
deixando todo traço definido incostante.

Estou de saco vazio de mim.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Momento II

Até que a carne dura transforme-se candura,
Rogo pela cadência da minha agonia
Para que no meu quarto se faça versos de amor
No qual bailo em paixão e ardência,
Suplicando para que haja permanência
Antes que talvez te aborreças de mim
E no meu poema se faça injúria.

A noite ponho-me a repousar anestesiada
Pelo aroma de almíscar, enquanto a estrela do desejo
Mostra-me o gozo ao foder extasiada.
Suponho que se a voz da ternura estivesse dentro
Eu jamais a ouviria, mesmo emanada desse corpo
Que com tanta altivez se desfez da redescoberta.

Com um sopro, toma o meu sonho mais delicado
Antes que transformem-me em um poço de despudor
E tudo se faça disforme.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Momento I

De duas pontas fez-se um laço.
Descobrindo a dialética
Dos seus eus, cheia de eloquência
Com a boca transbordando prazeres
E os olhos dançando com veemência.

Olho-te extasiada, enquanto toma-me,
anestesiada pela lascívia.

Sinto o cheiro da descoberta madura,
Desvanecendo ao sorver o sumo da sua fonte.