segunda-feira, 8 de junho de 2009

Riso Descrente

Elemento mais sublime da minha arte
Deixo-te quase oculto os meus restos
Unindo a densa forma poética que arde
Arquiteto de casas e singelos versos

Rico em uma inóspita sensibilidade
Detalha-me sem vergonha o seu feitio
Oriundo do puro amor sem vaidade
Quero-te para brincar, meu primo vadio

Umedeço os lábios rubros com leveza
E a ti ofereço o doce toque sedento
Rindo leve, apreensiva e com contento

Infindo será o nosso último fim de tarde
Despido de qualquer primeira despedida
Oxidaremos nossas vidas na mesma medida



*Leia verticalmente as letras coloridas ;)

domingo, 7 de junho de 2009

Entre Amores


Sabe aquele sonho juvenil que temos de encontrar o príncipe encantado? Pois é, o meu foi realizado. Aos 18 anos me casei com o homem dos meus sonhos: Francisco Buarque de Hollanda. Era como havia idealizado: muita poesia, muita música, muito amor e a boêmia como a nossa companheira. Alguns anos se passaram e fui começando a perceber que mesmo com a boêmia, a poesia e a música faltava algo mais... O meu sonho havia deixado de ser sonho e estava entrelaçado entre a rotina e a monotonia dos sentimentos.
Acredito fielmente que o meu ex tenha feito “O casamento dos pequenos burgueses” pensando em nós, porém, os versos em que ele dizia “ela esquenta a papa do neto, e ele quase que fez fortuna... Vão viver sob o mesmo teto, até que a morte os una” não chegaram a se concretizar. Antes disso...bem antes, tive uma delíciosa experiência em um dos seus shows. Estava na platéia, admirando-o e cantarolando suas canções como de costume, quando olhei para a minha esquerda, deparando-me com um homem extremamente atraente, com um bigode como nunca havia visto. Intrigada com ele, começamos a conversar e ele se apresentou: Paulo Leminski. Sabia que esse nome nunca mais sairia da minha memória.... E assim, começamos então a ter um “affair”, mesmo sabendo que ele era casado, fiquei emocionada quando ele recitou para mim “Amor Bastante”.
Ao voltar para casa, Chico ciente da minha conduta, olhou-me nos olhos e disse: “Éramos nós, estreitos nós...enquanto tú, és laço frouxo”. Decepcionado, pediu que eu me retirasse da sua casa e da sua vida, então, não tinha lugar para ir a não ser a casa do Paulo. Chegando na casa do Paulo, conheci sua mulher, Alice Ruiz, poeta como o marido. Ahh.. como foram bons esses meus dias! Ao me conhecer, ela disse logo: “A gaveta da alegria já está cheia de ficar vazia” e fui recebida com muita ternura (o que me surpreendeu). Alice estava no País das Maravilhas comigo lá, ela acreditava que eu era o ingrediente que faltava no relacionamento deles e ao perguntar se ela se sentia enciumada, ela dizia que não. Uma tarde, ela apareceu com um poema chamado “Se” e disse que havia o feito inspirada em mim. Ao lê-lo, não tive dúvida: estava encantada também por Alice! Fui percebendo que nos apaixonamos pela alma das pessoas, não pelo sexo. Vivemos algo estilo “Vick Cristina em Barcelona”. Não era apenas um ménage à trois, éramos uma família!
O tempo foi passando e como imaginava, me cansei da instabilidade que a intensa vida a três me proporcionava...Assim, deixei-os desconsolados quando peguei minhas malas e disse que aquilo já não dava mais pra mim. Dois dias após a minha partida, Alice me mandou um telegrama: “Você deixou tudo a tua cara só pra deixar tudo com cara de saudade”.
Resolvi voltar para o seio da família. Estava em casa, quando vi um caminhão de mudança na porta do meu prédio... Quando fui me informar, quase caí pra trás: Pablo Neruda estava exilado não na Itália, mas no Brasil, em Itabuna e morando temporariamente no meu prédio! Ah... se “a verdade é que não há verdade”, garanto veementemente que isso foi verdadeiro. Estava enfeitiçada pelos seus poemas, descobrindo novamente o amor. Era como se ele estivesse invadindo em mim um lugar inóspito... Passávamos as tardes entre carícias e pêlos emaranhados ao som da sexy voz de Nelson Gonçalves.
Cada dia era um novo poema, uma nova aventura. Ele calmamente me explicava que “a poesia tem comunicação secreta com o sofrimento do homem”. (In) Felizmente, o seu período de exílio chegou ao fim, e ele antes de partir, deixou apenas um bilhete que no final dizia assim: “... Do teu coração me diz adeus uma criança. E eu lhe digo adeus.”
Extremamente deprimida, minha tristeza foi se manifestando fisicamente e muito adoentada, liguei para Augusto dos Anjos vir me examinar. Ele olhou, olhou... E deu o diagnóstico: “Se a alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga... Escarra nessa boca que te beija!”. Com a ausência da esperança, disse a ele: “Tome doutor essa tesoura e corte minha singularíssima pessoa”. Ele simplesmente riu e debochadamente com o sotaque paraibano e disse que eu ficaria bem, quem encontraria novamente minha pessoa em um dos pseudônimos de Fernando Pessoa.
Dias se passaram e o corpo já estava bom, mas a alma ainda ferida. Resolvi então ir atrás desse Fernando. Ah... Como foi difícil encontrá-lo! Deparei-me com Álvaro de Campos (cheio de niilismos), Ricardo Reis (rico em simetria, harmonia e bucolismo) e Alberto Caeiro (poemas simples, diretos, concretos). Demorei a entender que todos esses que formavam o Fernando que Augusto tanto me falou. Ao embarcar na sua obra, percebi a sensibilidade do sentimento inerente a questões existências e isso me proporcionou certo conforto. Fui percebendo que não era incompreendida, as Pessoas de Fernando me compreendiam. Sutilmente ele falava “tenho em mim todos os sonhos do mundo” e dizia ainda que “para viajar basta existir”, pois “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
Comprei minha passagem e viajei. Em maio fui à Rússia. Ao desembarcar, um famoso poeta estava dando autógrafos na livraria do aeroporto e ao me olhar disse: "Me quer? Não me quer? As mãos torcidas, os dedos despedaçados... um a um extraio, assim tira a sorte enquanto no ar de maio caem pétalas das margaridas...” Encantada, me apresentei: “Marcelle Ferrari Menezes, amante dos que vivem.” E ele disse: sou Vladimir Maiakóvski. Ao ouvir dizer seu nome, só consegui me lembrar do meu amor de infância, Zeca Baleiro, que uma vez me disse que não seria “como o poeta que envelhece lendo Maiakóvski na loja de conveniência”. Eis que aceitei jantar com o russo e iniciei mais uma aventura de amor enquanto estive na Rússia.
O mês de dezembro foi chegando e retornei a minha terra natal para comemorar com a família as datas festivas. Ao reencontrá-los, não falava de outra coisa... Queria que todos soubessem os detalhes do meu envolvimento amoroso com o Vladimir. Estava contente, havia curado a ferida que Neruda deixou.
Estava entre familiares e sabe aquele primo que você não vê há anos? Pois então! Na hora do amigo secreto recebi um presente do meu primo Vinícius de Moraes (chamado por todos carinhosamente de Vininha) e no cartão ele escreveu assim: “amava suas primas com beijos e rimas”. Confusa, olhei-o nos olhos, agradeci e disse: “Sabe você o que o amor? Não sabe, eu sei!... Você já chorou de dor? Pois eu chorei. Já chorei de mal de amor, já chorei de compaixão... quanto à você meu camarada, qual o que, não sabe não”. Ele fingiu não ter reparado na maneira ríspida como respondi e disse que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”. Resumindo: Vivemos uma louca paixão, correndo entre o corredor da casa da vovó, fazendo amor no sofá da tia que cheirava mal, nos acariciando por baixo da mesa em almoços familiares. Vivíamos embriagados pelo whisky e pela poesia. Mas era aquele romance intenso e casual. Devido ao amor que Vininha sentia pelas mulheres, sabia que teria a fidelidade dele por pouco tempo, tinha plena convicção que tínhamos um curto prazo de validade. E Saravá, chegamos ao fim.
Resolvi reencontrar amigos da infância e fomos a um gostoso pub. Lá, conversando sobre nossas aventuras amorosas, Simone de Beauvoir me disse que “ninguém nasce mulher, torna-se” e Clarice Lispector, densa como sempre alegou que tudo isso havia acontecido comigo porque “o que não presta, sempre me interessou, e muito” e que “até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. Sartre tentava finalizar a conversa falando que “nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo".
Ao término da minha agradável noite, voltei pra casa. Amores vividos, intensos e verdadeiros ficaram para trás. Peguei o telefone e liguei para uma amiga (Florbela Espanca) e ela me disse que eu “sou talvez a visão que alguém sonhou, alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou!” ...Assim, desliguei o telefone e fui dormir, sonhando em continuar minha incansável busca pelo amor.

Por Favor, Cativa-me...




Após um longo e sábio caminhar, o Pequeno Príncipe, dispôs-se a descansar... E foi então que apareceu a raposa:
– Bom dia – disse a raposa.
– Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe, que, olhando a sua volta, nada viu.
– Eu estou aqui, – disse a voz, debaixo da macieira...
– Quem és tu? – perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita...
– Sou uma raposa – disse a raposa.
– Vem brincar comigo – propôs ele. – Estou tão triste...
– Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
– Ah! Desculpa – disse o principezinho. Mas, após refletir, acrescentou:
– Que quer dizer "cativar"?
– Tu não és daqui – disse a raposa. – Que procuras?
– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe.
– Que quer dizer cativar?
– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos.
– Que quer dizer “cativar”?
– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa. Significa "criar laços"...
– Criar laços?
– Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo... Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também.Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como música. E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo, que é dourado, fará com que me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...



A raposa calou-se e observou muito tempo o príncipe:
– Por favor, cativa-me! disse ela.
– Eu até gostaria – disse o principezinho – mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas, mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
– Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
É preciso ser paciente – respondeu a raposa.– Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas cada dia, te sentarás um pouco mais perto...






No dia seguinte o príncipe voltou.
– Teria sido melhor se voltasses à mesma hora – disse a raposa. – Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais me sentirei feliz! Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!



Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua – disse o principezinho. – Eu não queria te fazer mal; mas tu quiseste que eu te cativasse...

Quis – disse a raposa.
– Então, não terás ganho nada!
– Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.

Depois ela acrescentou:



– Vai rever as rosas. Assim, compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.



O pequeno príncipe foi rever as rosas:[...]. E ao voltar dirigiu-se à raposa:
– Adeus... – disse ele.
– Adeus – disse a raposa. – Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.














*O texto utilizado é o do capítulo XXI do livro O Pequeno Príncipe, algumas alterações foram feita sem prejudicar sua inteligibilidade.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Estou Faminta!

Caqueiro de espécie desconhecida





Aroma de Alecrim

Tenho sentido uma grande necessidade e não é emocional, é física mesmo. A necessidade é de trazer cada vez mais plantas ao meu quarto, que é o ambiente representa o meu espaço, reflete o meu íntimo, o meu gozo. É como se fosse uma fome. Por mais que eu coma, não passa. É uma fome do verde, uma fome da fotossíntese, uma fome da vida! Uma fome que quer beber todos os líquidos dos prazeres, saborear a alma. Uma fome que insaciável, viciante!



Confesso: estou viciada.



É como se o meu corpo quisesse se alimentar apenas da essência. A essência mais difícil de ser encontrada, a essência que leva-me a ficar deslumbrada pelo o que eu já conheço e remete-me a lembrar com ternura um futuro desconhecido. A essência que impulsiona pra frente, me chuta pra trás e tenta matar-me de fome. A fome que me faz cair aos prantos feito criança, a fome que choca-se com o que eu sou e o que eu penso que sou. A fome do tesão, fome dos dos saciados, a fome que me deixa cara a cara com o hedonismo. Quando a fome bate, é como se não houvesse destinção entre as experiências do passado e as consequências do futuro. Eu simplesmente como. Nem precisa ser o alimento mais suculento, basta estar acessível.



Quero um dia poder devorar-me, pois a maior fome que eu tenho é a de mim mesma.







Obs.: Por favor, plantei alecrim em minha homenagem, então, "...Manda novamente algum cheirinho de alecrim?... "

quinta-feira, 4 de junho de 2009

CINZA


A Memória, Magritte


Um daqueles dias do qual a chuva cai desmedidamente, o céu cinza envolve-me com ternura, dúvidas brotam como ervas daninhas e nada me resta a fazer a não ser colaborar com o ócio. O ócio do sentimento, da palavra, da quase verdade.



E aqui estou eu: meio medo, meio coragem, meio cinza.


Quem sabe, consiga...


Emabralhar suas cartas marcadas,


embebecer teu sol, secar tua chuva


e acabar com tua jogada!




Quem sabe ?


Obs.: A obra de Magritte é um tesão!

CONVITE DE CASAMENTO

Convido- te a...

Arrancar meus olhos e rasgar a ferida

Embriagar-se de tanto sugar meu sangue

Matar minhas falsas palavras sem vida

Levantar tijolos de plástico no meu mangue



Convido- te a...

Encontrar meu demônio inquieto e faminto

Iludir-me com a poesia sem nexo e expressa

(Des) construir meu sonho enquanto minto

Devorar meu corpo rápido, sem pressa



Convido- te a...

Acordar-me com murmúrios da fantasia

Presente na gélida ausência

Do que não existe e não se desfaz.