segunda-feira, 29 de março de 2010

Meu Saco Escroto

Estou de saco cheio do cheiro das pessoas,
aquele odor podre que sai de dentro
somente por elas serem humanas, à toa.

Estou de saco cheio de viver em sociedade
isso está me dando náuseas e mofando
toda ilusão que tive em certa idade.

Eu estou de saco cheio de sorrir
e vestir a cara falsa da maioria dos mortais,
esperando ganhar por servir.

Estou de saco cheio da rima do verso
que peno para achar palavras
que expressem o que eu contesto.

Estou de saco cheio de tudo tão mal,
daquela única lágrima que não desce
por crer que chorar me torna banal.

Estou de saco cheio da palavra muda
que degenera todo esforço que faço para ouvir,
me deixando cada vez mais surda.

Estou de saco cheio desses porcos infernais
que com a sua futilidade,
atiram pedras nos meus sonhos coloniais.

Estou de saco cheio de olhar para o poente,
brincar de cabra cega, não conseguir
tirar a venda e ficar ali, rente.

Estou de saco cheio do ruído constante
que desorienta e empurra abismo abaixo
deixando todo traço definido incostante.

Estou de saco vazio de mim.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Momento II

Até que a carne dura transforme-se candura,
Rogo pela cadência da minha agonia
Para que no meu quarto se faça versos de amor
No qual bailo em paixão e ardência,
Suplicando para que haja permanência
Antes que talvez te aborreças de mim
E no meu poema se faça injúria.

A noite ponho-me a repousar anestesiada
Pelo aroma de almíscar, enquanto a estrela do desejo
Mostra-me o gozo ao foder extasiada.
Suponho que se a voz da ternura estivesse dentro
Eu jamais a ouviria, mesmo emanada desse corpo
Que com tanta altivez se desfez da redescoberta.

Com um sopro, toma o meu sonho mais delicado
Antes que transformem-me em um poço de despudor
E tudo se faça disforme.